28 de mai de 2020

“O Agro não para”

Por: Tiago Galina

Engenheiro Agrônomo - CREA/PR - 83.380/D

Consultor Técnico da empresa SERAGRO JT

MBA Gestão Empresarial - FAE (2009-2010)

Tiago Galina

A economia mundial vem atravessando uma crise em vários setores devido ao efeito do Covid-19, porém o agronegócio se apresentou menos impactado e com bons resultados em meio à crise. O que faz com que este setor tenha este reflexo não tão desesperador?

A primeira necessidade populacional é se alimentar, e o sistema de produção do agronegócio brasileiro continua se empenhando em produzir com qualidade e de forma sustentável, sendo fatores determinantes para que este setor não tenha muitas mudanças comparado a períodos de normalidade.

As estimativas da CONAB demonstram justamente esta continuidade em nosso sistema produtivo, divulgando para a safra 2019/2020 uma produção de 248 milhões de toneladas, com aumento de 2,5% da produção comparada a safra anterior. Estes números poderiam ser melhores se as condições climáticas fossem mais favoráveis, como observado no Rio Grande do Sul, um importante estado produtor que enfrentou a mais severa estiagem dos últimos anos, causando redução de mais de 30% da safra gaúcha.

Mesmo no melhor cenário, o agro é afetado por problemas climáticos, barreiras ambientais, situação econômica e política do país, mas além destes obstáculos encontramos também o novo Coronavírus como um desafio.

Em que pese todas estas dificuldades, segundo dados da secretaria de comércio exterior (Secex) do Ministério da Economia, de fevereiro a abril, período que o efeito do covid-19 já apresentava efeitos sobre alguns setores da economia, o agronegócio brasileiro exportou US$ 52,822 bilhões, cerca de um terço do total (US$ 16,438 bilhões) no complexo carne, soja e derivados.

Dados do relatório Focus, do Banco Central, projetam crescimento do PIB da agropecuária de 2,48% enquanto outros setores se retraem até 4%.A insegurança política brasileira fez com o real se desvalorizasse diante do dólar, atingindo valores próximos a R$ 6,00 valorizando as commodities no nosso mercado interno com preços recordes.

O que devemos considerar é que não são apenas commodities que fazem parte do agro brasileiro. Existem outros produtos essenciais em nossa alimentação que estão sofrendo maior efeito do que outras, como o caso da fruticultura e a pecuária de leite.

No artigo “O efeito do Covid-19 sobre a demanda da fruticultura do Vale do São Francisco”, o autor, doutor em economia aplicada e pesquisador da Embrapa João Ricardo F. de Lima, relata esta situação na fruticultura da região abordada, tornando muito complexo o planejamento dos produtores no fornecimento de seus produtos com regularidade em situação de muita variação da demanda.

Com a mudança temporária do hábito da população brasileira, o consumo de frutas tem variado por ser um produto perecível, o consumidor mudou sua rotina de ir as compras porque em período de quarentena não saberia quando retornaria, assim a oferta e demanda passava por períodos de desequilíbrio, e isso fez com que em alguns dias faltassem produtos e logo depois faltavam consumidores, quando os produtores não encontravam compradores para seus produtos.

A produção de leite percebeu variações semelhantes, mas com maiores efeitos negativos, as empresas compradoras, no caso os laticínios, recomendavam aos produtores que diminuíssem a produção no campo e também reduziram 15% no preço do produto in Natura, na qual estava sendo menos requisitada pelo consumidor final e consequentemente menor rentabilidade ao produtor.

O alimento de “todos os brasileiros”, o feijão, sofreu resultados diferentes a estes dois citados acima, uma elevação dos preços pagos ao produtor e consequentemente elevação no valor para o consumidor final. Seu consumo se elevou em meio a pandemia, justamente no período em que a oferta deste produto foi uma das menores dos últimos anos.

Mesmo diante desta realidade, as variações em determinadas atividades do agronegócio nos faz refletir - sobre o quanto é importante este setor para a humanidade.

Somos do agronegócio, somos abençoados por Deus, precisamos produzir com responsabilidade e sabemos que “ao lado do produtor” existem pessoas que dependem do seu trabalho para se alimentar, por isso “o Agro não para”.

Apenas agora durante o período de pandemia, o agronegócio fica reconhecido como “bom menino”, por produzir alimentos e fortalecer a economia brasileira. Até mesmo as acusações responsabilizando este setor como causador dos danos ao meio ambiente não estão mais aparecendo, o que houve com os críticos?

Uma coisa é certa, eles também se alimentam. Acredito estarem conscientes e reconhecer a importância do agronegócio na vida de todas as pessoas, por que ao contrário das plantas, não somos alimentados apenas pela energia solar, por isso que “o Agro não para”.