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A Maçonaria e a Independência do Brasil


É sabido que a maçonaria teve importante participação na história de nosso país, notadamente nos episódios que redundaram na independência do Brasil em 1822. Nossos princípios de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, sempre inspiraram mudanças e revoluções sociais no mundo inteiro. Vários movimentos sociais tiveram a atuação forte e resoluta da maçonaria. No Brasil os anseios de libertação e independência da colônia foram amadurecendo, ante vários fatos ocorridos em outras partes do mundo, notadamente a Revolução Francesa, que universalizou nossa doutrina, e a Independência dos Estados Unidos da América. Registros históricos nos dão conta que em 1808, o Brasil havia sido alçado à condição de Reino Unido à Portugal e Algarves, em decorrência da fuga da família Real Portuguesa de sua terra natal, em função da ofensiva das tropas de Napoleão Bonaparte. Como o Brasil tornou-se a sede desse Reino Unido, muitas transformações políticas, econômicas, culturais e sociais, ocorreram por aqui nesse período. A atuação política dos Brasileiros, desde os mais radicais até os mais moderados, passou a ter amplo destaque devido a presença do príncipe regente D. João VI com a família Real. Em 1820, houve a Revolução Liberal do Porto com grande apoio da população Portuguesa, que passou a exigir a convocação das Côrtes para a elaboração de uma nova Constituição para o Reino de Portugal. Os membros da Revolução também exigiram a volta da família Real Portuguesa, que ao sair do Brasil, deixa D. Pedro, filho de D. João VI, como príncipe regente do país, que aqui permanece, não sozinho, pois logo viu-se envolvido por todos os lados de homens de bem, Maçons, que constituíam a elite pensante e econômica da época, tendo como amigo, ministro e conselheiro o maçom José Bonifácio de Andrada e Silva. O ano de 1821 foi permeado por intensas discussões nas Côrtes de Lisboa. O Brasil na condição de membro do Reino Unido, também enviou para as Côrtes seus representantes, entre eles Antônio Carlos de Andrada, irmão de José Bonifácio de Andrada e Silva, um dos arquitetos do Império do Brasil. Os portugueses desejavam a volta do Brasil à condição de Colônia de Portugal e, em face da resistência dos brasileiros a essa perspectiva, os Portugueses começam a exercer maior pressão. Uma das manobras foi a tentativa de obrigar o príncipe D. Pedro a regressar a Portugal, a pretexto de concluir seus estudos, deixando então os brasileiros sem representante legítimo em seu solo. O episódio mais emblemático que ilustra esta situação foi o envio de tropas portuguesas para levar o príncipe de volta e que, graças à pronta atuação dos maçons que o cercavam, resultou na decisão de D. Pedro por ficar no Brasil e proclamar, em 9 de janeiro de 1822: "Como é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto, diga ao povo que Fico". E ainda, a visitar o navio UNIÃO, da Divisão Auxiliadora Portuguesa, esquadra que o viera resgatar, e dar ordens para que retornassem a Portugal ou seriam hostilizados como inimigos. Assim, apesar de revoltados, as tropas Portuguesas retornaram a Portugal, e outras que posteriormente foram para cá mandadas, foram proibidas de desembarcar no Brasil, posto que, acentuava-se o movimento pela Independência e, D. Pedro decretou inimigas as tropas Portuguesas que tentassem desembarcar no Brasil. Certo é que o movimento pela Independência ganhava corpo, e uma outra contribuição importante seria dada pelo grupo maçônico: Em 13 de maio de 1822, o senado da Câmara, atendendo a uma sugestão da maçonaria concedeu o Título de Protetor e Defensor Perpétuo do Brasil, ao Príncipe Regente D. Pedro. Em 13 de junho de 1822, na maçonaria, foi proposto e aceito o nome do candidato Príncipe D. Pedro. Em 17 de Junho de 1822, a Loja Comércio e Artes na Idade do Ouro, desdobra-se em mais duas Lojas, as lojas "Esperança de Niterói" e "União e Tranquilidade", tornando possível a criação do que viria a ser o Grande Oriente do Brasil, onde só se admitia para iniciação e filiação em suas Lojas, quem se comprometesse com o ideal da Independência do Brasil. Em 02 de agosto de 1822, é iniciado o príncipe regente, D. Pedro, adotando o nome histórico de GUATIMOZIM, último Imperador Asteca morto em 1522, passando o príncipe a fazer parte do Quadro da Loja "Comércio e Artes na Idade do Ouro". Em 05 de agosto de 1822, por proposta de Joaquim Gonçalves Lêdo, que presidia os trabalhos, foi aprovada e feita a exaltação do mesmo ao Grau de Mestre. Assim, no ano 1, ata de 20 do 60 mês maçônico (20 de agosto) de 1822, consta que, tendo sido convocados maçons membros das três lojas metropolitanas, em uma sessão extraordinária, presidida pelo primeiro Vigilante Joaquim Gonçalves Ledo, no impedimento do Grão Mestre José Bonifácio de Andrada e Silva, aquele proferiu do sólio veemente discurso, demonstrando com sólidas razões, que as circunstâncias políticas da pátria, do rico, fértil e poderoso Brasil, exigiam que a sua categoria fosse inabalavelmente firmada com a proclamação da independência. Explicou o mesmo grande Vigilante, Gonçalves Lêdo, a necessidade de ser sua moção discutida, para que, aqueles que pudessem ter receio de ser precipitada a medida de segurança e engrandecimento da pátria, ficassem convencidos, pelo debate, de que a proclamação da Independência era a âncora da salvação do Brasil. Passando a palavra à assembléia, falaram diversos membros e todos aprovaram a moção reconhecendo a necessidade imperiosa de se fazer a Independência do Brasil. Ainda nessa sessão, foi fixada a data de 12 de outubro, aniversário do Príncipe Regente, para a solenidade da proclamação. Na sessão de 23 do 60 mês (23 de agosto) de 1822, ainda presidida por Gonçalves Lêdo, foram nomeados os comissários que deviam ir tratar da aclamação nas diferentes províncias entre elas: Minas, Pernambuco e Bahia. Vários maçons ofereceram as somas necessárias para as despesas de viagens dos comissários. Nomeou-se também comissão para ir agradecer, respeitosamente, ao Augusto Grão-Mestre Guatimozim (D. Pedro), as fraternais felicitações que, de São Paulo, dirigira ao Grande Oriente".

No entanto, em 7 de setembro de 1822, D. Pedro ao receber dos emissários Paulo Bregaro e Antônio Cordeiro, sua correspondência, composta por cinco cartas, tudo se precipita. O maçom Padre Belchior Pinheiro de Oliveira, vigário de Pitangui em Minas, e confidente de D. Pedro, que o acompanhava na viagem a São Paulo, assim narra: "O Príncipe mandou-me ler alto as cartas trazidas pelos emissários. Eram elas: - 1) As Côrtes exigindo o regresso imediato do Príncipe, a prisão e processo de José Bonifácio; - 2) Princesa Leopoldina recomendava prudência e pedia que o Príncipe ouvisse seu Ministro; - 3) O Ministro José Bonifácio dizia ao Príncipe que só havia dois caminhos a seguir: partir para Portugal imediatamente e entregar-se prisioneiro das Côrtes, como estava D. João VI, ou ficar e proclamar a Independência do Brasil, ficando seu Imperador ou Rei; - 4) Chamberlain, agente secreto do Príncipe, informava que o partido de D. Miguel, em Portugal, estava vitorioso e que se falava abertamente da deserdação de D. Pedro em favor de D. Miguel; e 5) D. João aconselhava ao filho obediência à lei portuguesa. D. Pedro tremendo de raiva tomou os papéis de minhas mãos e os jogou no chão. Eu os apanhei e guardei. Virou-se para mim e disse: E agora padre Belchior? Eu disse: Se Vossa Alteza não se faz Rei do Brasil será prisioneiro das Côrtes e talvez deserdado por elas. Não há outro remédio senão a independência e a separação.

O que se seguiu a partir daí foram as declarações por nós conhecidas feitas por D. Pedro: " De hoje em diante estão quebradas nossas relações, nada mais quero do governo Português e proclamo o Brasil para sempre separado de Portugal !"; E diante de sua guarda de honra arranca do chapéu o laço azul e branco, símbolo da nação Portuguesa e atira-o ao chão dizendo: "Laço fora soldados! Viva a Independência, a liberdade e a separação do Brasil!"; E assim foi imitado pelos que o rodeavam. Desembainhou sua espada e disse: "Pelo meu sangue, pela minha honra, pelo meu Deus, juro fazer a independência do Brasil" !; E erguendo-se de pé nos estribos diz: "Brasileiros a nossa divisa de hoje em diante será INDEPENDÊNCIA OU MORTE!". Estava agora proclamada oficialmente a Independência do Brasil. Vale a pena relembrar que em 1822 a maçonaria Brasileira estava dividida em duas grandes correntes. Ambas favoráveis à independência! Uma delas, liderada por Joaquim Gonçalves Lêdo, defendia idéias republicanas. A outra de José Bonifácio de Andrada e Silva, acreditava que a solução era manter D. Pedro como Imperador em regime de monarquia constitucional. Esses dois grupos disputaram o poder de forma passional. Por curiosidade, e para vigiar e controlar as diversas correntes, D. Pedro participou ativamente das duas. Frequentava as Lojas do grupo de Gonçalves Lêdo reunidas no Grande Oriente do Brasil, mas também esteve na fundação do Apostolado da Nobre Ordem dos Cavaleiros de Santa Cruz, dissidência liderada por José Bonifácio. O Apostolado em lugar de Lojas tinha Palestras uma delas batizada, significativamente, de Independência ou Morte. D. Pedro jurou promover com todas as forças e à custa da própria vida, a integridade, independência e felicidade do Brasil como reino constitucional, opondo-se tanto ao despotismo que o adultera como à anarquia que o dissolve. Era o programa de governo de José Bonifácio. A passagem de D. Pedro pela maçonaria é meteórica. Pelo menos oficialmente. Iniciado na Loja Comércio e Artes na Idade do Ouro no dia 02 de agosto de 1822 com o nome de Guatimozim, foi promovido a Mestre 3 dias mais tarde e sagrado Grão Mestre 2 meses depois. Exerceu a função por apenas 17 dias. Em 21 de outubro (uma semana após a aclamação como imperador), mandou fechar e investigar as Lojas que o haviam ajudado a proclamar a independência. E 4 dias mais tarde, sem que as investigações sequer tivessem começado, determinou a reabertura dos trabalhos com força e vigor. Mas os acontecimentos políticos impediram esta reinstalação, sendo o Grande Oriente do Brasil, fechado em 25 de outubro de 1822 e só ressurgindo em 1830. Tal é nossa história.




"A loja Maçônica Acácia de Clevelândia neste ano de 2022 em que completa 40 anos de fundação, faz referência aos 200 anos de Independência do Brasil."


Antônio M. Woginski Neto

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