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COMPORTAMENTO EM TEMPOS DE COVID-19: ATIVIDADE FÍSICA, ALIMENTAÇÃO, RELAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE MENTAL

Por: Cezar Grontowski Ribeiro

- Educador Físico - CREF/SC – 2753-G

- Doutorando em Educação Física – UFSC/SC

- Mestre em Ciências da Saúde – UNOCHAPECÓ/SC

- Especialista em Saúde e Qualidade de Vida – FACIPAL/PR

- Especialista em EAD: Habilitação em Tecnologias Educacionais – IFPR/PR

- Docente do curso de Educação Física do Instituto Federal do Paraná – Campus Palmas


Cezar Grontowski Ribeiro

Entendendo a situação

A rápida disseminação e a gravidade do COVID-19 submeteram a população a um distanciamento que impactou nas rotinas de diferentes maneiras. Em pouco tempo, tivemos cerceada nossa liberdade de escolha por medidas preventivas de governo (extremamente necessárias, diga-se), sendo preciso reorganizar as formas de trabalhar, de estudar, de adquirir produtos e serviços, e até mesmo de nos relacionarmos uns com os outros. Esse distanciamento provocou reações variadas nas pessoas, como ansiedade, estresse, frustração, tédio, por exemplo, que podem levar a um quadro de saúde negativo.





Para compreender essas alterações e as possibilidades de lidar com a situação, é importante primeiramente apresentar a diferença entre distanciamento social, isolamento e quarentena.


O distanciamento social é uma situação de diminuição das interações físicas entre as pessoas, com objetivo de diminuir a velocidade de transmissão do vírus (no caso, o COVID-19). É uma estratégia essencial no controle da pandemia. Esse tipo de ação não impede as pessoas de saírem de casa, desde que respeitadas as orientações e restrições impostas pelas autoridades, com fim de preservar a saúde comunitária(1,2).


O isolamento é a ação de separar as pessoas doentes (infectadas pelo vírus) das que não estão doentes e objetiva evitar a propagação do vírus entre a população. Pode ser realizado na própria casa ou em ambiente hospitalar, dependendo da recomendação médica relativa ao estado clínico da pessoa (2,3).


A quarentena é o período de separação das pessoas que apresentam probabilidade de terem sido expostas e/ou contraído o vírus. Pode ser individual (uma pessoa que volta de viagem, por exemplo) ou coletiva (tripulantes de um avião, moradores de um bairro muito afetado, entre outros)(2,3). Em resumo, a quarentena é um período de análise e comprovação de que a pessoa não é portadora do vírus.


Entendido isso, é preciso destacar que estamos vivendo (a maioria da população) um período de distanciamento social. Assim, a recomendação de permanecer por mais tempo em casa trouxe uma mudança significativa de comportamento em diferentes aspectos, como veremos a seguir.


As mudanças de comportamento

Apesar dos aspectos negativos serem geralmente destacados, é preciso sempre encontrar também os pontos positivos de qualquer situação. O distanciamento social trouxe dificuldades, mas também serviu como uma ótima oportunidade de rever a forma como vivemos e nos relacionamos.


As mudanças ocorreram em todos os níveis: familiar, ambiental, social e de trabalho. As adaptações se tornaram inevitáveis e os impactos na rotina diária para algumas pessoas não representou grande mudanças, enquanto para outros foi até mesmo radical. É importante avaliar como as restrições impostas pelo momento nos afetaram e também as pessoas à nossa volta. Poderá ser um importante aprendizado para criar um ambiente favorável e diminuir os prejuízos causados pelo distanciamento social.


É preciso destacar que, da mesma forma que a pandemia trouxe dificuldades para as relações sociais externas e de trabalho, houve uma aproximação das pessoas no ambiente familiar, passando a dividir espaços com mais frequência e interagir de modo mais efetivo. Apesar de em alguns casos isso gerar transtornos, muitas famílias nunca estiveram tão conectadas: pais se aproximaram dos filhos (voltaram inclusive a brincar com eles!), irmãos conversaram com mais frequência, amigos próximos se tornaram ainda mais valiosos, enfim, fomos lembrados (mesmo que de forma dolorosa, é verdade) do quanto essas relações são importantes.


Em meio a tantas mudanças, a atividade física, a alimentação e as relações sociais têm sido destacadas como ações importantes na manutenção da saúde física e mental, o que torna importante observar algumas de suas características nesses tempos de pandemia.


Atividade física

A reclusão ocasionada pelo distanciamento social tende a fazer com que as pessoas sejam ainda menos ativas, o que pode ocasionar, por exemplo, ganho de peso e o surgimento ou ampliação dos efeitos de doenças relacionadas ao estilo de vida (hipertensão, diabetes, entre outras). A atividade física não evita que a pessoa seja contaminada, mas fortalece o organismo de maneira geral, protegendo contra doenças que podem potencializar a ação do coronavíru(4).


A Organização Mundial da Saúde recomenda que as pessoas realizem pelo menos 150 minutos semanais de atividade física moderada (aquela que faz aumentar sua respiração e batimentos cardíacos, mas você ainda consegue conversar ou cantar) e/ou de atividade física vigorosa (aquela em que a respiração e os batimentos cardíacos aumentam muito e para realizá-la você não consegue conversar ou cantar).


Para se manter ativo no período de distanciamento social, procure uma atividade que você considera prazerosa. Alguns exemplos são brincar com as crianças e/ou animais domésticos, dançar, subir e descer escadas, entre outras inúmeras atividades possíveis de realização na própria casa. Existem vários aplicativos e vídeos na internet com exercícios e atividades que podem ser realizados sem a necessidade de equipamentos ou orientação especializada. Isso ajudará a diminuir o impacto do distanciamento social e permitirá melhorar sua relação com a família, ao mesmo tempo em que efetua uma atividade saudável.


Se não conseguir realizar 30 minutos de atividade física diariamente, seja o mais ativo que puder!


Alimentação

Do mesmo modo que a atividade física, uma alimentação adequada não torna a pessoa imune ao vírus, mas pode auxiliar na proteção do organismo e torná-lo mais resistente.


Ficando mais tempo em casa, as pessoas estão estocando alimentos, com preferência pelos produtos industrializados, que duram mais. No entanto, esses alimentos têm mais calorias e menos nutrientes, o que pode gerar ou agravar problemas de saúde. Dessa forma, é importante optar sempre que possível por alimentos in natura (alimentos consumidos no seu estado natural) como frutas, verduras e legumes, e evitar o máximo possível o consumo de alimentos industrializados (refrigerantes, biscoitos recheados, macarrão instantâneo, etc)(5,6).


Aproveite para tornar as refeições um tempo de convivência com a família e fortalecer os vínculos com os familiares próximos. Esse é um valioso fator para enfrentar de forma positiva o distanciamento social.


Relações sociais e saúde mental

É uma característica da população brasileira manter boas relações sociais. O abraço, o beijo e o tocar nas pessoas fazem parte do nosso cotidiano. São sinais da nossa estima pelo outro.


O distanciamento físico gerado pela pandemia trouxe quadros de estresse, ansiedade, depressão, solidão, irritabilidade, entre outros. Algumas dicas para diminuir essas sensações e manter uma boa saúde mental podem ser: estar em contato frequente com familiares e amigos nos quais se tem confiança, por meio das mídias disponíveis (telefone, whatsapp, facebook, etc); manter uma rotina saudável (atividade física, alimentação, sono e contato social); evitar notícias da mídia que lhe perturbam (selecione o que assistir e como isso impacta na sua forma de agir e pensar)(7).


É fundamental que as pessoas consigam manter a serenidade e a sensibilidade para tomar as decisões mais acertadas e evitar desgastes desnecessários, lidando com a situação de forma consciente e responsável, zelando também pela saúde mental das pessoas que estão próximas. Uma boa estratégia é usar o tempo para realizar uma atividade que você queria muito, mas não tinha tempo (aprender a tocar violão, aprender um idioma, pintar, fazer um curso online, ler um livro, entre outros). Aproveite também para expressar sua criatividade: pode ser que ideias maravilhosas surjam!


Dê uma atenção especial às crianças e adolescentes

A tecnologia tem transformado a forma como as crianças brincam, conversam e se relacionam. Na pandemia, o tempo de uso dos aparelhos tecnológicos (inclusive pelos adultos) aumentou significativamente. No entanto, é importante que os pais estejam atentos ao conteúdo e ao tempo de tela dos menores. Ficar muito tempo sentado ou deitado, fazendo movimentos repetitivos em computador, celular ou outro aparelho, pode trazer prejuízos à saúde.


O ideal é que você crie propostas de atividades físicas ou de lazer que possam ser compartilhadas em família, que envolvam movimento. Assim, não somente vai ajudar a criança a manter uma boa saúde, como também poderá se divertir e fortalecer os vínculos entre todos. Lembre-se: uma criança ativa é o primeiro passo para um adulto saudável e feliz.


Olhe para a vida de forma positiva

A forma como vamos olhar para o mundo quando a situação se estabilizar, não será mais a mesma. Nem por isso se deve perder a esperança ou o otimismo em dias melhores. Ficar na zona de conforto e reclamar da situação é visivelmente mais fácil. Porém, aqueles que estão usando esse tempo para pensar em soluções criativas, certamente sairão na frente, seja no trabalho, nas relações sociais ou familiares.


Apesar do cenário de caos que nos é apresentado todos os dias pelos meios de comunicação, é preciso olhar para essa pandemia como um aprendizado positivo. Valorizar ainda mais o lar, a família e as boas relações. Ver que os empregos e o dinheiro são importantes, mas não compram o sorriso de um filho ou o abraço de uma pessoa querida. É preciso viver com entusiasmo, alegria, confiança na própria capacidade, utilizando o tempo de distanciamento para otimizar sua vida e suas ações.


Por fim, a melhor recomendação a se fazer é a manutenção de um comportamento saudável, o pensamento positivo, as ações firmes em seus propósitos e a crença de que a vida sempre encontra um meio. Em breve isso passará, mas não podemos esquecer jamais que estamos nesse mundo com um único objetivo: sermos felizes.


Observação: Siga as medidas de proteção da OMS: lave as mãos frequentemente; evite aglomerações e muito contato pessoal; proteja boca e nariz ao espirrar/tossir; evite tocar nos olhos, nariz e boca; não compartilhe objetos pessoais; busque ajuda médica, se necessário.


REFERÊNCIAS:

1. Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de Vigilância em Saúde. Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública. Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública para Infecção Humana pelo Novo Coronavírus (COE-nCoV). Especial: doença pelo Coronavírus 2019. Boletim Epidemiológico. Brasília/DF: 06 abril 2020. Disponível em:https://www.saude.gov.br/images/pdf/2020/April/06/2020-04-06-BE7-Boletim-Especial-do-COE-Atualizacao-da-Avaliacao-de-Risco.pdf.

2. Aquino, E.; Silveira, I.H.; Pescarini, J.; Aquino, R.; Souza-Filho, J.A. Medidas de distanciamento social no controle da pandemia de COVID-19: Potenciais impactos e desafios no Brasil. CienSaudeColet [periódico na internet] (2020/Abr). Disponível em:

http://www.cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/medidas-de-distanciamento-social-no-controle-da-pandemia-de-covid19-potenciais-impactos-e-desafios-no-brasil/17550?id=17550.

3. World Health Organization (WHO). Considerations for quarantine of individuals in the context of containment for coronavirus disease (COVID-19): interim guidance, 19 mar 2020. Genebra: 19 março 2020. Disponível em: https://apps.who.int/iris/handle/10665/331497.

4. Ferreira, M.J. et al. Vida Fisicamente Ativa como Medida de Enfrentamento ao COVID-19. Arq. Bras. Cardiol. [online]. 2020, vol.114, n.4, p.601-602. Disponível em:

5. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção da Saúde. Vigitel Brasil 2017: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico: estimativas sobre frequência e distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2017 / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção da Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2018. Disponível em:https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/vigitel_brasil_2017_vigilancia_fatores_riscos.pdf.

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2020000400601&lng=en&nrm=iso.

6. Barreto, B.A.P. Recomendações do CFN: boas práticas para a atuação do nutricionista e do técnico em nutrição e dietética durante a pandemia do novo coronavírus (COVID-19 Conselho Federal de Nutricionistas). 3ª ed, 2020. Disponível em: https://www.cfn.org.br/wp-content/uploads/2020/03/nota_coronavirus_3-1.pdf.

7. Schmidt, B. et al. Saúde mental e intervenções psicológicas diante da pandemia do novo coronavírus (COVID-19). Estud. psicol.(Campinas) [online]. 2020, vol.37, e200063. Disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2020000100501&lng=en&nrm=iso.

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