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Leitura, muito prazer!

Por: Denise Cristina Aziliero

- Graduada em Letras Inglês - Português com especialização em Metodologia do Ensino da Língua Inglesa.

- Atua como docente no Colégio Estadual João XXIII e na Faculdade Municipal de Educação e Meio Ambiente – FAMA de Clevelândia/Pr.

Denise Cristina Aziliero

"No princípio era o Verbo...”


Mas como saberíamos se alguém não houvesse escrito esse Verbo?


Desde tempos imemoriais é premente no ser humano a necessidade de comunicar-se, expressar-se, de sair de si, em uma tentativa de se situar no mundo como agente transformador por natureza.


Um tempo chegou em que somente os sons emitidos e ouvidos já não eram mais suficientes. Precisavam ser escritos para que pudesse haver registro e partilha da nossa breve passagem pelo tempo e pelo espaço que ocupamos tão efemeramente. Sendo assim, os povos da Antiguidade longínqua que inventaram a escrita, desde o Oriente Médio até o Mediterrâneo, deixaram-nos a sua herança mais preciosa: o real e o imaginário descritos nas primeiras histórias de que se tem notícia.



No bojo dessa premissa percebemos então que, tanto a escrita quanto a leitura são frutos da prática social por essência primeira, produções tão genuinamente humanas, que permitem a transmissão cultural da nossa experiência sobre a terra, através dos séculos, recolhendo e registrando o que vivemos por meio de narrativas e relatos que compõem nossa identidade.


Portanto, senhoras e senhores, sim! A vida é para ser lida. Escrita e lida. Lida e escrita, como lhes soar melhor.


Naturalmente há que se perguntar o que ler nesse mundo dominado por símbolos e signos escritos. Como e para quê? Mas esse é um caminho que se descortina de modo diverso a cada pessoa que se dedica ao prazer da descoberta e da fruição da leitura, pois o ato de ler jamais se esgota na última página de um livro lido. A leitura de cada um permanece em quem o leu mesmo que, com o passar dos anos, as exatas palavra usadas pelo autor para compor aquela narrativa se recolham no recôndito campo do esquecimento da nossa mente. Ainda assim, as sensações e compreensões derivadas das leituras diversas são como um prazer que permanece qual o sabor de fruta favorita que deixa aquele gosto bom na boca, muitas vezes doce ou até mesmo inquietante.


Sempre podemos ser diferentes e a leitura certamente auxilia nessa lapidação. Não, não, você jamais sai de um livro lido da mesma forma que entrou. Não se iluda. Mergulhe e aproveite a viagem. Sua bagagem será enriquecida com imagens mentais e aprendizados oriundos de países distantes ou próximos, ou da pluralidade riquíssima do nosso próprio, amores felizes ou desencontrados, passeios luxuosos pelos castelos de outrora, ou quem sabe, uma passadinha traumática por um futuro distópico e sombrio. Choro e decepção, riso e encanto alegrando-nos ou doendo-nos, vamos assim expandindo o nosso estar no mundo e ampliando nossas esferas de conhecimento.


Vou adiante e ouso dizer, sem medo de errar ou de estar exagerando: a leitura salva! Ela nos salva de nós mesmos. Nos liberta da trevosa ignorância das horas vazias, da escuridão dos desafetos, das vicissitudes da existência. Ela também, como musa que é, nos eleva o espírito e nos inspira a buscarmos o melhor de nós mesmos, a querermos ser diferentes do que somos ou fomos. E vai além! Vezes inúmeras joga à nossa frente a realidade e a crueza dos fatos, a vileza dos sentimentos, a crueldade dos pensamentos e atos dos quais só pessoas, como eu, ou como você somos capazes de elaborar. Ela expõe nossa mesquinhez muitas vezes tanta e irremediável. Coloca tudo diante de nós e nos dá uma chance de redenção, de aprendizado e, ao fim de uma leitura, sempre ganhamos mais uma oportunidade de revigorar e aprimorar a condição humana.


Sendo assim, nessa espiral de sonho e realidade, o ser que lê, que se propõe a ler sem tréguas e sem descanso, contemplando suas pilhas de livros a qual não sabe se terá tempo de finalizar, vai aprendendo que a nossa dor, a nossa alegria, a nossa esperança ou ausência dela é comum e inerente a cada seu(sua) igual que habita esse planeta. Também compreende que, diante das incertezas e da brevidade da vida, a leitura nos ajuda a entender que não estamos sozinhos, que podemos desfrutar do prazer de uma existência significativa, como nos recorda o grande, para não dizer gigante, poeta Walt Whitman:


Ó eu! Ó vida!... das questões que sempre reaparecem; Das legiões sem conta dos que não têm fé; Das cidades repletas de tolos; De mim próprio sempre a me censurar (pois quem seria mais tolo que eu e quem teria menos fé?); Dos olhos que inutilmente anseiam pela luz; Das coisas ordinárias; Do esforço sempre renovado; Dos medíocres resultados de tudo; Das multidões trôpegas e sórdidas que vejo no meu entorno; Dos anos vazios e inúteis de todo o resto, eu integrado nesse resto, Vem a questão (ó eu!) tão triste, recorrente:

O que há de bom no meio de tudo isso, ó eu, ó vida?

Resposta:

Você está aqui - a vida existe, e existe a identidade; O poderoso espetáculo vai continuar, e você pode contribuir com um verso.

Walt Whitman (1819-1892)


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