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Uma visita ao Prof. Joaquim


É uma quinta-feira de tarde ensolarada, porém gélida do início do mês de Abril, e estou em frente à minha casa esperando por um amigo. Pontualmente às 13:30h, conforme o combinado, chegou trazendo junto com ele, um também amigo dos tempos de escola, e iniciamos a tão esperada viagem que já estava programada há bastante tempo.


Os dois são grandes entusiastas, apreciadores e apoiadores da cultura e vivenciam a tradição campeira. Peterson Reisdoerfer e Fernando Jacobsen, passaríamos mesmo um tempo no mínimo interessante, com muita história garantida e também muita risada - principalmente quando os assuntos rondavam os tempos idos dos jovens clevelandenses!


Com a viajem em andamento e depois de algum tempo, quando já nos encontrávamos na região das eólicas, nos Campos de Palmas, deixamos a estrada principal, rodando agora em estrada de chão. Depois de alguns poucos quilômetros e várias porteiras abertas nos aproximamos do nosso destino - mesmo não querendo transparecer, sem dúvida eu era o mais afoito dentro daquele automóvel, pois iria conhecer pessoalmente uma pessoa admirável, sobre quem ouvira falar por diversas vezes e sobre quem foram feitos inúmeros comentários também durante esta viagem.



Logo a frente avistamos um grande portão, e nele está pendurada uma prancha com um entalhe que identifica a propriedade, “Fazenda São Pedro”. Chegamos ao nosso destino.









Estamos em região formada por grandes campos naturais de vegetação campestre com alguns poucos capões de mata, como é típico dos Campos de Palmas. Um belo tapete verde se estende em todas as direções até desaparecer no horizonte.





Um pouco mais a frente, em uma região mais baixa como um pequeno vale - o que nos leva a pensar ter sido um lugar escolhido com a intenção de proteção contra os ventos frios e fortes costumeiros naquela região, em frente a sua acolhedora residência pudemos avistar o anfitrião que já nos aguardava, o Professor Joaquim Osorio Ribas.


Um homem descendente de desbravadores chegados a região de Palmas no século XIX - do lado materno, a família Vieira chegou ainda nos primeiros dias de Palmas, em 1841. Do lado paterno, a família Ribas chegou por volta de 1890.


Pelo que sei, um senhor nascido nos meados da década de 30, filho de Osório Ribas com Francisca Vieira. Um Bancário aposentado, pecuarista, formado em história, pela faculdade de União da Vitória. Escritor, membro fundador e primeiro presidente da Academia de Letras Vale do Iguaçu (Alvi), de União da Vitória - com dois livros publicados: um contando a história do município de General Carneiro e o outro sobre a história de Porto União. Pesquisador com várias publicações sobre história regional e também grande conhecedor da história do Contestado. Um requisitado palestrante que quando criança, seus primeiros aprendizados se deram através de “uma professora muito rigorosa, que tinha uma letra muito bonita e era uma mulher muito à frente de sua época”, a sua mãe dona Chiquinha.


Entretanto, apesar de todo o conceito já formado, de imediato é possível identificar que se trata de uma personalidade amistosa e simpática. Um homem acolhedor que nos convida à sua aconchegante varanda.


Inevitavelmente nos chama a atenção o belo e florido jardim que ornamenta sua charmosa casa. Tudo muito bem cuidado em seus detalhes. E nesse momento uma coisa me chamou a atenção; a pouca distância dali, em uma colina é possível avistar uma grande e majestosa árvore, e nela uma casinha de madeira construída entre seus grossos galhos. Como em um estado de transe, me veio a memória o breve filme de algumas peraltices da infância. Quando voltei a realidade percebi que um singelo sorriso - nostálgico e melancólico de canto de boca - expressava todo o saudosismo dos tempos de infância.

Ainda estávamos nos acomodando naquela varanda - coloquei minha cadeira na posição em que eu podia contemplar todo a bela paisagem daquele local, e ao mesmo tempo ficando próximo do professor, porque minha intenção era a de gravar as coisas que ele tinha a nos dizer - quando chegou ali a Sr.ª Jaqueline de Mello Ribas, a amável e simpática esposa do professor, para nos dar as boas-vindas e em uma bandeja trouxe pratos de canjica, uma deliciosa canjica. Não demorou nada para que pudesse me sentir em casa.


Não perdemos tempo, passados já alguns instantes, naturalmente a conversa foi fluindo, e nesse momento além do Prof. Joaquim estão naquela varanda três homens, atentos a cada palavra dita, a cada história contada. São as narrativas dos acontecimentos vividos ou repassados pelos antepassados, as histórias sobre a origem e povoamento da região, colonizadores, disputas, batalhas. Tudo com os pormenores fluindo naturalmente com a lucidez de quem domina plenamente os assuntos, com riqueza nos detalhes e precisão de quem possui uma memória privilegiada. Como não poderia ser diferente, também falamos sobre assuntos muito em voga na atualidade como política, fanatismo e a guerra na Ucrânia, entre outros.

Fernando, Peterson e Prof. Joaquim


O prazer da interação e da socialização do conhecimento enreda o ambiente como se fosse uma teia magica que envolve a todos ali, e como estamos abstraídos por aquele momento, não percebemos a rapidez com que o tempo está passando...





Prof. Joaquim e Srª Jaqueline

até que, em algum instante, chegou novamente à aquela varanda a Srª Jaqueline que nos dá uma agradável notícia nos convidando a uma mesa farta onde está posto um delicioso café da tarde - só então nos damos conta de quanto tempo já estamos ali - e agora, na companhia do casal, pudemos passar mais um momento aprazível em torno daquela mesa.




Ao lado de sua casa, o Prof. Joaquim mantem em uma pitoresca casinha o seu acervo pessoal. São relíquias colecionadas ao longo de sua vida. Livros, quadros, fotos e peças de decoração ou utilitárias, muitas delas pertencendo ao contexto de sua história e da história de seus antepassados, e que por certo, decoraram cenários e momentos narrados pelo professor.


Passamos ali um bom tempo, apreciando um por um daqueles objetos, e num esforço mental, imaginando os eventos ou acontecimentos dos quais aquelas peças foram testemunhas presenciais.


Enquanto estávamos ali, nos deleitando em meio à aquele acervo, com entusiasmo que lembra à crianças numa loja de brinquedos, dei uma espiadinha pela janela e ficou evidente que o tempo passou. O sol já começa a se aproximar dos cerros nos campos, dourando o horizonte e nos dando sinal de que já é hora de iniciarmos a viagem de volta.


Durante o retorno, estou calado e concentrado - revendo e tentando memorizar os bons instantes passados na companhia dos velhos e dos novos amigos - para mais tarde já em casa, decidir entre e relatar sobre as tantas histórias narradas, ou escrever sobre aquele que contou as histórias, o Professor Joaquim!

Jôni Leite


"De nada adianta estudar, pesquisar, se não socializar o aprendizado."

Joaquim Osorio Ribas (Abril de 2022)


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