Era uma linda tarde de verão, eu sentada em um gramado, rodeada de ipês amarelos e roxos. Envolta de uma brisa suave e serena da minha querida Clevelândia. Sentia-me diferente ao presenciar aquela brisa suave e as flores dos ipês caindo, formando um verdadeiro campo mesclado nas cores amarelo e roxo.
Levantei-me e saí a caminhar, sem perder de vista uma única flor que caía macia como uma pena, naquele tapete verde. Foi, então, que olhei mais ao longe e um vulto alvo de cabelos esvoaçantes vindo em minha direção.
Sim era ele, a mais perfeita das criaturas, louro, com rosto singelo no qual as maçãs de sua face reluziam e seu sorriso tilintava para mim. Fiquei estática, sem ação, sem saber para onde ir. Decidi que iria ficar naquela mesma posição na qual o vira. E ele como um cavalo branco e imponente continuou vindo em minha direção, cada vez mais perto e mais perto.
Ao se aproximar de mim fiquei estática, mas notei que os raios daquela exuberante tarde de verão iluminavam com um brilho fulgurante os cabelos daquele homem louro. Ele me olhou, seus olhos azuis celestes lindos, como eu nunca havia visto em toda a minha vida.
Senti meu corpo se arrepiar e as minhas bochechas rosaram como carmim. Respirei profundamente e consegui dizer oi, e ele receptivamente sorriu e também me disse oi, seguido da pergunta: Qual seria o nome da mais bela flor, entre estes ipês floridos?
Nesse instante fiquei pensando se responderia ou se o abraçaria. Olhei com firmeza para seu rosto e disse: me chamo Açucena e você como se chama?
– Bem, meu nome não é muito conhecido, aliás, é bem diferente.
E me olhando com ternura beijou as minhas mãos e disse: me chamo Jarom, meu pai era um grande religioso, e pregava a palavra de Jesus Cristo porvários lugares. Dessas viagens conheceu minha mãe, se casaram... Bem resumindo, meu nome é um nome bíblico, mas chega de falar de mim, me fale de você minha flor.
Sentamos no chão e começamos a conversar, contei a ele que meu nome fora escolhido porque minha mãe era amante da natureza e adorava flores, por essa razão eu me chamava Açucena.
Naquela tarde conversamos muito e nos divertimos bastante. Combinamos de nos encontrar no dia seguinte naquele mesmo lugar onde havíamos nos conhecido.
Nos despedimos, no dia seguinte, eu levantei animada cantarolando uma canção e logo em seguida sai para o nosso encontro.
Cheguei cedo me sentei no chão e fiquei a contemplar as árvores ao meu redor. Subitamente surgiu na minha frente ele, a escultura mais bela de todas “Jarom”. Sentou-se ao meu lado pegou as minhas mãos beijou-as, em seguida passou as mãos em meus cabelos, segurou o meu rosto e beijou-me na boca, suavemente seus lábios tocaram os meus e logo entraram em sintonia. E ele me abraçou fortemente me dando segurança e muito amor. Não hesitei e nos amamos ali mesmo debaixo dos ipês. Aquele momento foi maravilhoso, ficamos horas e horas nos contemplando um ao outro, e dizendo o quanto um significava para o outro.
Mas, começou a escurecer e tivemos de ir embora, pois morávamos muito longe um do outro e a caminhada de volta para casa era longa. Assim, começou o nosso namoro, nos víamos todos os dias, vivendo paixão intensa e sem se preocupar com o amanhã.
Mas foi em uma manhã fria e chuvosa que Jarom apareceu em minha casa, dizendo que havia recebido um telegrama de seu pai e que teria que partir. Quando eu quis falar, ele me segurou dizendo:
- “Eu fugi de minha terra, pois, não suportava ver meu pai controlar a vida do próximo, e como pastor ele me fez casar com uma moça da congregação, eu a engravidei e nos tivemos gêmeos”.
Eu fiquei estarrecida e chocada ao mesmo tempo, tentei pensar que eu não estava ouvindo aquilo que era um relapso da minha mente, mas não, era verdade.
“Açucena ainda tenho mais a lhe dizer, meu pai conseguiu me encontrar e no telegrama disse que meus filhos estão doentes por minha causa, porque eu os abandonei. E minha mãe faleceu de desgosto, minha mulher esta quase enlouquecendo... e...”
Tudo bem, eu disse a ele, volte para casa, inocentes não merecem morrer por falta de amor dos adultos. Mas por dentro eu queria que ele ficasse, que ele esquecesse o que havia vivido e vivesse uma nova vida ao meu lado. Lágrimas escorreram de meu rosto. E ele sussurrou ao meu ouvido:
- “Eu te amo, eu nunca amei ninguém como eu amo você, minha flor, minha Açucena”.
E chorando ele partiu, e levou consigo todo o amor, a alegria e a vontade que eu tinha de viver.
Hoje quando lembro de Jarom, minhas vistas escurecem, meu coração dispara, sinto uma vontade louca de sair gritando seu nome pedindo que volte. Sei que já não me pertence, que nunca me pertencerá. E o meu consolo é ir todas as tardes no mesmo lugar. Sentar no gramado, contemplar os ipês e as flores que caem de seus pés, sentir a suave brisa balançar meus cabelos, esperando que aquele louro, cujos olhos eram azul celestes e se chamava Jarom venha correndo em minha direção e me diga:
- “Qual seria o nome da mais bela flor, entre estes ipês floridos?”.
Regina Guimarães