Certa vez eu li uma crônica do Walcyr Carrasco sobre a perda de um amigo. Em outra feita, li uma de Carlos Heitor Cony, sobre o mesmo assunto. O amigo de ambos era um cachorro e uma cadelinha, respectivamente. Sem querer me comparar ao talento genial de ambos os cronistas, redijo esta minha com o peito apertado, corroborando com ambos a dor de perder um amiguinho de quatro patas.
Há pouco mais de onze anos, em visita a casa dos meus tios na vizinha cidade de Abelardo Luz, eu ganhei um filhote mestiço, todo branco com pintas pretas, bem pequenino. Há anos não tínhamos em casa um animalzinho, então meus pais resolveram aceitá-lo. O primeiro embate foi sobre o nome: eu queria Pintado, visto as pintas dele, contudo, meu pai preferia Pitoco, por causa de uma música do Teodoro e Sampaio, cujo cãozinho do clipe era igual.
Mas claro, meu pai acabou vencendo a guerra do nome. Por alguns dias o mantivemos na garagem, até ele crescer um pouco. Depois, ganhou sua própria casinha, confortável como um bom amiguinho deve ter. E ali ficou por anos a fio, sempre brincalhão e comilão. Aliás, comia de tudo... comida e ração, e no domingo após o almoço, era aquela festa, recebia ossos e carne do churrasco. Aliás, aonde íamos lembrávamos em trazer um pouco de carne para ele.
Cresceu forte, robusto e saudável. Nada de incômodo, detestava banho, é verdade, e sempre que saía do tanque ia direto para a terra se rolar. Sempre com as vacinas em dia, pulava de alegria quando me via. Ah, como ele atendia pelo nome de Pitoco. E latia quando ouvia minha voz perto da janela onde ele sempre ficava. Latia para os pássaros também, era uma alegria. Alegria essa quando corria pelo jardim de casa, e quantas vezes se aproveitou de um descuido do portão aberto para fugir pela rua. Mas sempre, meu pai ou eu, conseguíamos capturá-lo rapidamente e o trazia para seu doce lar.
Ano passado, o já meio idoso Pitoco foi agraciado com uma casinha novinha em folha, em frente à janela da minha biblioteca, para cuidar do meu acervo de cultura. O sempre gordinho amiguinho começou a ficar doente, lentamente, levamos ao veterinário, o tratamos, e melhorou... contudo, nas últimas semanas ele novamente se abateu, o Dr. Fabiano muito bem o tratou, mas infelizmente não se havia muito a fazer. O pobre coitado estava com os dias contados.
Trouxemos para dentro de casa novamente, foi aos poucos parando de andar, latir, comer e beber água. Seus olhos em meus olhos eram de angústia, dor, sofrimento. Até que hoje, aquele anjinho de quatro patas partiu. Parou de sofrer e também de nos alegrar. Escrevo esta crônica e olho pela minha janela. Sua casinha nova, a qual aproveitou pouco mais de um ano, está vazia. Seu pote de ração está quase cheio. E a saudade no peito aperta a cada instante. Despeço-me aqui, pois caiu um cisco enorme no meu olho...
Rodrigo Toigo