Era período de carnaval. Eu tinha lá os meus 12 ou 13 anos, no máximo. Estava apaixonado. Todo mundo sabe como é esse sentimento quando se está saindo da infância e entrando na adolescência. É uma mistura de alegria e medo, satisfação e temor.
Estava apaixonado por uma colega de classe. Uma mocinha loira de cabelos compridos e olhos azuis. Sim, ela tinha a mesma idade que eu. Éramos amigos. Fazíamos todos os trabalhos juntos. Sentávamos perto um do outro. No recreio, repartíamos o lanche.
Nossos colegas falavam em namoro, mas nós, sempre corados, não admitíamos isso. Naquele tempo longínquo, onde a modernidade da internet sequer era pensada, eu ia para casa sem querer. A vontade de ficar no colégio era imensa. Não que eu gostasse de matemática e suas contas perversas, ou da gramática terrível dos verbos, muito menos dos mapas geográficos ou do passado da história.
O colégio, naquela época, para mim, era apenas aquela doce amiga, minha namorada de olhares e sorrisos. Para mim, matemática era contar as horas para vê-la novamente no dia seguinte; o único verbo que eu queria conjugar era o “ver”, para novamente meus olhos brilharem diante de seu sorriso.
Até que chegou o carnaval. Era março e já fazia um mês que as aulas haviam iniciado. Ela chegou para mim e disse que iria ao clube, domingo à tarde, com uma prima mais velha. Chamou-me para ir também. Falou, com aquela voz macia, que seria divertido brincarmos na folia.
Eu que nunca fora ao clube, nem imaginava como era uma festa de carnaval de verdade, embriagado com aquele convite, aceitei. Somente me dei conta disso quando estava a caminho de casa. Meus passos foram diminuindo ao tempo que imaginava que meus pais jamais me deixariam ir. Sozinho, não poderia. Companhia, não teria.
Cheguei a casa! Que caminho mais longo foi aquele. Sentindo um pouco de medo, pedi para minha mãe se eu poderia ir ao clube, pular carnaval com uma amiga, no domingo à tarde. Ela, como eu já imaginava, respondeu apenas um “não”, firme, como se ali estivesse implícito: “não volte a fazer esse pedido, menino”. Fui para o meu quarto e deitei na cama. Ela me esperaria o domingo todo, no clube, e eu não iria.
Se fosse hoje, mandaria uma mensagem, ligaria... mas naquela época... nada de celular, internet, telefone em casa. E para piorar, nem sabia onde ela morava. À noite, minha última esperança era meu pai. Pedi para ele se podia ir e a resposta foi à esperada: “pergunte à sua mãe”. Ela, mais que depressa, repetiu a resposta dada anteriormente.
A minha primeira tristeza amorosa então se deu. Angustiado passei o final de semana todo. No domingo, chorei, sozinho, no meu quarto, imaginando aqueles lindos cabelos loiros dançando pelo clube, e aqueles olhos azuis do céu, me buscando entre as pessoas.
O feriado passou devagar. Não consegui me concentrar nas tarefas de casa. Até que às aulas retornaram, numa sombria e chuvosa quinta-feira. Cheguei correndo ao colégio e fui até minha sala de aula. Entrei e ela não estava ali. Pensei que estaria atrasada, pois sempre chegávamos naquele horário. O sinal tocou, após a fila (eu na maior angústia da minha vida, coração acelerado), entramos para a primeira aula, e durante a chamada, o nome da minha amiga namorada de olhares foi chamado pela professora de português, e uma amiga dela, que sentava na primeira carteira gritou: “Ela não vem mais professora, os pais dela se mudaram para a capital”.
Imaginem, queridos leitores. Meu mundo caiu. Fiquei sem chão. Aquela menina que eu tanto gostava, amava, quem sabe até, me deixou. Foi embora sem me avisar. Será que ela chegou a ir ao clube no domingo? Talvez lá me diria que estaria de mudança... Talvez, pois a verdade nunca soube. Nunca mais a vi. Nunca mais nos falamos.
Guardo apenas, para mim, em meu coração, seus lindos cabelos loiros, olhos azuis, e seu indescritível nome!
Rodrigo Toigo