27/10/2021
Por Alice Menin
Sou uma clevelandense gorda, acadêmica de engenharia civil, atriz profissional, modelo plus size, colunista de revista sobre moda e aceitação, além de aspirante a blogueira buscando ajudar os outros a terem amor próprio, mostrando a minha própria caminhada através de redes sociais.
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A sociedade sempre foi e continua sendo muito preconceituosa, Clevelândia não está fora dessa realidade, em um aspecto geral o povo gosta muito de criticar. E definitivamente não é uma cidade favorável para as pessoas gordas, falta acessibilidade, respeito, representatividade e principalmente empatia. Quase todas as pessoas gordas que eu conheço aqui, estavam sempre como eu, fazendo mil e uma dietas, exercícios excessivos ou então fazendo tratamentos como o balão estomacal ou até mesmo a cirurgia bariátrica, pois o tempo todo existiam comentários de como você era gordo(a) e supostamente estavam preocupados com a sua saúde, além dos que diziam que você nunca ia encontrar alguém desse jeito.
No meu caso anos atrás, quando estavam sempre comentando sobre meu tamanho, eu nem era gorda, desde quando uma pessoa que veste 42/44 é gorda? É um tamanho normal, mas supostamente inaceitável. Eu sofria muito para achar roupas em Clevelândia, todas as modinhas nunca serviam ou então escutava "não temos o seu tamanho" sem mesmo pedir qual ele era... Hoje em dia, eu sou gorda sim (e não, não há depreciação alguma em dizer isso) e a moda também está muito mais abrangente, mas mesmo assim vejo que Clevelândia não acompanhou esse progresso, quando a loja diz que possui tamanho grande elas estão se referindo ao GG. São pouquíssimas as lojas que tem roupas plus size, e tamanhos grandes são muito mais caros que os "normais", então as pessoas gordas são obrigadas a comprar o que serve, não o que realmente gosta, a não ser que compre na internet ou em outras cidades. Mas e as pessoas de classes mais baixas? Essas sim, realmente tem que aceitar o que serve e podem pagar, já que tudo é tão caro para gordos.
Onde eu quero chegar é: como é que alguém consegue ter auto estima, se sentir bem consigo, quando é obrigado a aceitar o que serve em você e não o que você acha bonito ou gostaria de usar? Não tem! não tem como você se sentir bem assim, porque o que você vê não te agrada, não te representa e como existem muitos fatores envolvidos, a solução não é "só se vestir bem" ou então "só fechar a boca que ai as coisas servem e tudo fica melhor". A sua saúde mental vai piorando de pouco em pouco, com os comentários, as situações, o visual, a falta de personalidade. Então “só” emagrecer e ficar feliz com as roupas servirem em você não vai resolver todos os seus problemas na saúde mental, eventualmente você fica triste de novo.Principalmente quando volta a engordar, ou quando mesmo que faça de tudo para emagrecer (até ficar absolutamente sem comer) não consegue e fica completamente frustrada, não somente com o seu corpo mas com todos os aspectos da vida, pois você acha que isso interfere em tudo, nas aspirações, na vida pessoal, amorosa, profissional... E bem no fim você aceita que a culpa de ser assim é sua, quando na verdade não é! você não é errado(a) por ser gordo(a)! isso é só uma característica física, você tem muito mais qualidades, não se deixe resumirpelo seu tamanho. Junte se ao movimento de começar a se amar e respeitar o seu corpo, mesmo que você não goste de tudo nele, odia-lo só te faz mais mal (ainda mais mal do que os comentários das outras pessoas).
E a principal iniciativa que a cidade deve aderir é voltada para os lojistas: tragam peças maiores (G1, G2, G3, G4, G5) e algumas um pouco mais joviais, não são apenas pessoas mais velhas que são gordas.E preferencialmente com preços acessíveis para que todas as classes sociais sejam abrangidas. Mas outras iniciativas também são muito importantes, como:
Ter certeza que as poltronas ou cadeiras de salas de espera e estabelecimentos sejam resistentes e com um tamanho maior, para que as pessoas gordas se sintam mais seguras e não envergonhadas por não conseguir sentar;
As academias ou profissionais que trabalham na área relacionada a saúde física entendam e respeitem caso alguém não queira emagrecer, existe sim gordo saudável e é um direito que temos em movimentar nosso corpo gordo, se exercitar e praticar esportes, mesmo que isso não seja voltado ao emagrecimento;
E a questão de empatia para a população: se você conhece alguém que engordou você não precisa comentar nada, a pessoa sabe que engordou. Caso tenha emagrecido, não é motivo de elogios, a pessoa também sabe que emagreceu e a beleza não está somente na magreza. Se você não acha pessoas gordas bonitas ou atraentes esse é um direito seu, porém não precisa fazer comentários maldosos ou preconceituosos, gosto é uma coisa relativa o que não é bonito para você pode ser para outras pessoas e respeito é um direito de todos.
Lembrando que não existe mal algum em você ser gordo e querer emagrecer, apenas tenha certeza que está fazendo isso por você ou sua saúde (caso tenha algum problema e seja necessário) jamais faça isso por opinião dos outros, situações preconceituosas ou coisas maldosas que alguém falou ou fez para você, nesse caso invista mais em se sentir bem do jeito que você é, vendo pessoas parecidas com você nas redes sociais, fazendo terapia e conhecendo o que seu corpo é capaz de fazer.
Tem uma informação que pode ser muito importante para as mulheres clevelândenses grandes... existe uma loja fantástica que é a Pérola Chic, onde você encontra lingeries lindíssimas de tamanhos grandes, o que pode ser uma ótima iniciativa para dar o primeiro passo para a aceitação, se sentindo linda e poderosa para si mesma, ainda que tenha que usar roupas básicas por cima. Comecem a ver as suas qualidades, seus talentos, sua beleza, não só suas dobrinhas. Você pode ser gorda E linda sim!
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