NARRATIVAS
05 de Agosto de 2020
UMA OBRA DE ARTE!
O oratório de madeira possivelmente mais antiga de Clevelândia, está situado na Fazenda Santa Cruz do Rio Chopim, fundada pelo casal Joaquina Mendes Pacheco e José de Lima Pacheco, um dos primeiros casais habitantes desta terra, que naquela época nem se chamava Clevelândia. Joaquina morou até o final de sua vida na fazenda, falecendo aos 104 anos de idade, e foi sepultada no cemitério municipal desta cidade. O imóvel que abrigava a antiga fazenda, foi legalizado em 1.854, data da instauração da Província do Paraná. Mulher aparente frágil com apenas 1.49 de altura, Joaquina era destemida, forte, corajosa, e muito devota de Nossa Senhora Aparecida. Construiu o oratório feito em madeira e talhado na sua parte superior com desenhos em corte, que lembra a arte barroca (conhecida pelos detalhes, requinte e elegância). Desenvolvida no século XVII em uma época bastante significativa para a civilização no Ocidente). Os proprietários relatam que possivelmente o oratório tenha mais de 130 anos, uma vez que foi construído juntamente com a antiga sede da fazenda que foi demolida, há muito tempo atrás.
oratório
Conforme informações coletadas com familiares mais antigos, os mesmos escravos que construíram as taipas, (cercas de pedras divisórias para abrigar carneiros e separar piquetes) que ainda podem ser vistas próximas a sede atual, ajudaram na construção do oratório que se mantém devidamente conservado. Relembre-se a propósito, os versos do poeta maior do sul, Jayme Caetano Braum, sobre as taipas: Velha mangueira crioula, curral de pedra empilhada que até o pastor da manada bombeia com desconfiança, ficaste como lembrança da infância desta querência, guardando a mesma inocência dos brinquedos de criança! Os antigos oratórios tem bastante identificação com o catolicismo no Brasil, como a padroeira Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora Desatadora de Nós, que atende preces difíceis. Que este oratório possa ser conservado com o mesmo zelo, por muitos anos pelas futuras gerações, pelo valor histórico que representa, como forma de cultuar os nossos antepassados.
taipas
05 de Agosto de 2020
O DRAMÁTICO DESAPARECIMENTO DE DUAS CRIANÇAS
O fato a ser relatado ocorreu há 59 anos atrás, num domingo a tarde próximo as 14.30hs, na divisa do Estado do Paraná com o Estado de Santa Catarina, na localidade conhecida por Linha Imigra, município de São Domingos-SC, e envolveu o desaparecimento de duas crianças, Zilá Pedroso com 06 anos (filha de Agenor Pedroso, (já falecido) e Maria da Luz Pedroso) e Elaine Bodanese, com apenas 04 anos de idade, filha de Augusto Bodanese e Tereza Bodanese (ambos falecidos) proprietários e moradores de uma fazenda bem próxima da fazenda da família Leão, onde Agenor era capataz. Após o almoço, as crianças combinaram de ir até a fazenda do Sr Augusto, e avisaram os familiares que conversavam na sala. Eles consentiram, mas advertiram que retornassem logo. As meninas saíram e foram pra estrada geral que vinha pra Clevelândia-Pr, como de costume faziam, mas por distração seguiram o caminho errado, indo em direção a cidade de Abelardo Luz-SC. Brincando e conversando entraram no mato, e se distanciaram cada vez mais da fazenda que pretendiam ir. Zilá ainda falou para Elaine, estou achando estranho esse caminho pois a gente atravessava uma ponte, e nós já atravessamos duas pontes, tendo Elaine respondido. É por aqui sim, vamos entrar nesse “carreirinho” e já saímos lá na fazenda. Após caminharem alguns metros o tempo prenunciou chuva, começando a escurecer o céu, quando então correram se abrigar embaixo de uma árvore frondosa e ali permaneceram encolhidas, com as roupas na cabeça para não se molharem. Enquanto isso, os pais das crianças começaram a se preocupar com a ausência e foram até a fazenda do Sr. Augusto, mas não as encontraram o que aumentou ainda mais o temor que algo pudesse ter acontecido.
Zilá Pedroso e Elaine Bodanese
A partir de então começaram a procurar as meninas indagando as pessoas próximas, se tinham visto ou não, mas todas respondiam negativamente. O desespero dos familiares aumentava cada vez mais, as crianças não retornavam e ninguém sabia do paradeiro das mesmas. Não havia nenhuma informação que trouxesse esperança. O que teria acontecido ? Todos se embrenharam nas matas, procuravam nos córregos, nos rios e nenhum sinal. Buscaram ajuda da polícia, prometeram recompensas para quem as encontrasse, até uma tribo indígena para que pudesse dar alguma orientação baseado em seus costumes, sem êxito, infelizmente. O breu da noite foi chegando na mata, ouviram o uivo dos animais, o canto melancólico da coruja, e o sibilar do vento nas folhas. Veio o amanhecer e nenhum sinal das crianças. Há cada minuto que passava a esperança de encontrar as meninas com vida ia se esvaindo, afinal imaginar duas crianças frágeis, indefesas, sem comida, sem água, com frio, a mercê de animais bravios da floresta, era desolador. Havia algumas frutas silvestres na floresta, mas as crianças lembraram o conselho dos pais, para que não comessem frutos do mato, porque poderiam ser venenosos. Os moradores de Clevelândia, e municípios vizinhos, se irmanaram numa grande corrente de fé, e todos ajudavam na procura. O tempo foi passando, segunda feira, terça feira e nenhuma noticia das crianças. Havia um clima de infinita tristeza e a grande maioria das pessoas já não acreditava que as crianças estivessem vivas. Algo de terrível teria acontecido, e pouco a pouco a esperança ia se desvanecendo, dando lugar a um sentimento de solidariedade pois já se preparavam para o pior. Porém os desígnios de Deus são vedados a compreensão dos homens. Enquanto isso, na casa de Renato Jacobsen, que morava distante do local, uma de suas irmãs na hora do café matinal daquela quarta feira, falou ao mesmo. Eu sonhei que você tinha encontrado as meninas desaparecidas! Renato então assentiu: Eu também sonhei que tinha encontrado ! Vou dar mais essa viagem para buscar madeira agora de manhã e depois vou ajudar a procurar ! As crianças fatigadas pelo cansaço e a fome, foram até uma poça de água para saciar a sede. O sol das onze horas da manhã queimava a pele já ressecada, e picada de mosquitos e pernilongos. Não havia mais força para prosseguirem, sentaram ao lado da poça de água e começaram a chorar.
Nesse momento escutaram um caminhão que percorria a estrada principal rumo a Abelardo Luz. Um anjo deve ter orientado Renato Jacobsen e seu funcionários para desviar da sua rota normal para ir ao trabalho e resolveu entrar numa pequena “cancela” (porteira) cujo o acesso levava ao encontro das crianças. Uma decisão de inopino, sem previsão, guiada por uma força sobrenatural. Ninguém havia procurado naquele local, era quase impossível que ali estivessem. Era completamente fora do rumo. Renato desceu do caminhão e escutou o choro das crianças, e lembrou do sonho que tivera naquela noite. Deus havia lhe proporcionado a infinita graça de encontrar as crianças desaparecidas. Se aproximou delas e as segurou nos braços uma de cada lado. A emoção tomou conta de todos. Encerrava ali um triste episódio vivenciado por duas crianças corajosas, e com um final feliz! As meninas finalmente foram levadas para as suas casas para alegria dos familiares e dos amigos.
Momento do encontro das meninas com os familiares e Renato Jacobsen.
Agradeço a D. Zilá ao Julio, seu filho, (pela entrevista) e a Elaine Bodanese. Me sinto sensibilizado pela oportunidade de relatar esse fato a todos. Zilá e Elaine moram em Clevelândia, e são pessoas conhecidas. A nossa gratidão a família de Renato Jacobsen por ter cedido as fotos para esta publicação, e o eterno agradecimento por ter sido escolhido pelo criador do universo para encontrar as crianças desaparecidas e salvar as suas vidas !!!!!
19 de Abril de 2020
TESTEMUNHA OCULAR DA HISTÓRIA DE CLEVELÂNDIA
Há poucos meses de completar 95 anos, Mozart Rocha Loures um dos pioneiros desta terra, Descendente de europeus vindos do Conselho de Loures, cidade pertencente a região metropolitana de Portugal, do qual herdou o sobrenome, concedeu entrevista ao seu filho Nilton Luiz Pacheco Loures, advogado e professor universitário, relatando desde a chegada de seu avô paterno João Cypriano da Rocha Loures vindo no século passado da região de Palmeira, então município de Passo Fundo RS. Entre os familiares, veio o seu pai, Aureliano da Rocha Loures, com apenas 14 anos de idade na garupa de uma mula, conduzida por seu irmão Antonio da Rocha Loures, que tinha 20 anos na época. Pelo valor histórico-cultural da sua narrativa, foi autorizada a publicação na imprensa.
Mozart Loures
Aureliano João Cypriano da Rocha Loures
Loures- Portugal
Berço da descendência família Rocha Loures
Entrevista com o Sr. Mozart Rocha Loures
1- Porque o seu avô, João Cipriano veio do Rio Grande do Sul para o Paraná?
R- Segundo o meu pai contava, o meu avô era proprietário de uma fazenda chamada Lobo e Servo, de aproximadamente 5.000 alqueires situada na região de Palmeira, no Rio Grande do Sul, onde criava gado. O meu pai e meus tios nasceram nessa fazenda. A fazenda foi uma doação de D. Pedro I em agradecimento ao meu avô pela abertura da estrada de Guarapuava a Nonoai em companhia do seu irmão Brigadeiro Francisco Ferreira da Rocha Loures. O meu avô abandonou a fazenda depois de ter sido invadida por forças revolucionárias. Naquela época as revoltas no Rio Grande do Sul aconteciam com frequência.
2- Por que ocorreu o abandono da fazenda?
R- O profeta João Maria, um andarilho que não comia carne, receitava chá de ervas, tinha fama de curandeiro e andava pelas fazendas da região. Era muito conhecido do povo do norte do Rio Grande do sul, oeste e sul catarinense e grande parte do Paraná. Era também conhecido da minha avó Brasilicia a qual costumava levar queijo no local onde ele ficava acampado. Em uma tarde, ouviu dele uma previsão preocupante: “Eu sei que o seu marido não acredita em mim, mas diga pare ele pegar a família e fugir desta fazenda o mais breve possível, porque vai haver uma grande revolta e todos correm risco de vida se aqui permanecerem” Retornando para a casa, minha avó disse ao marido sobre a previsão, mas ele realmente não acreditou e respondeu a ela.: “Não seja boba em acreditar nesse homem, a região toda está calma, ninguém comenta absolutamente nada, imagina se vai haver alguma revolta”, Entretanto, a previsão se tornou realidade, e dois dias depois do alerta, do profeta, numa manhã de inverno, as planícies amanheceram tomadas de invasores, o que obrigou o meu avô a abandonar a fazenda, fugindo com seus familiares. Os olhos d’água, pequenas fontes benzidas por São João Maria nunca secaram. Inclusive, eu conheço alguns situados em fazendas daqui de Clevelândia que realmente permanecem até hoje.
3- O seu avô ficou aqui em Clevelândia ou prosseguiu viagem?
R- Ele foi com os familiares para Guarapuava, ficando aqui somente o meu tio, Antonio Rocha Loures, irmão mais velho de meu pai, que foi morar em Campo-Erê, SC, levando consigo meu pai. Muito tempo depois, a sua fazenda foi invadida por revolucionários comandados por Luiz Carlos Prestes.
4- Quanto tempo o seu pai ficou morando em Campo-Erê?
R- Não sei exatamente, mas sei que depois de algum tempo ele retornou a Clevelândia e foi morar na Fazenda do Sr Firmino Martins, pai do Sr Manoel Lustosa Martins, (meu padrinho) Depois de algum tempo casou no dia 24 de maio de 1919 com Benevenuta Pacheco Arruda, nascida em Nonoai, RS e passou a morar numa casa de pedra que foi presente de casamento do seu sogro, Antonio Aires de Arruda., situada na rua São Sebastião, na esquina da Oficina do Paludo- atualmente). Os meus pais sempre moraram nesse local e eu e meus irmãos, Aroldo, Izeu, Esdrá e Nereu nascemos nessa casa. O meu irmão Nereu morreu de congestão com apenas anos de idade. O pai de minha mãe, Antonio Aires de Arruda tinha uma casa comercial de secos e molhados, sendo um dos primeiros comerciantes da cidade.
5- Qual era a profissão do seu pai?
R- O meu pai era tropeiro, e exímio laçador. Transportava tropas de gado para a cidade de Palmeira no Paraná e algumas vezes para o Rio Grande do Sul. Mais tarde abriu um açougue. Recordo-me de que quando ele abatia os animais no antigo matadouro, ele tocava uma corneta para avisar que havia carne fresca. Um dos fregueses mais assíduos, era Oscar Loureiro Cardoso. Na época não se vendia carne com osso, somente carne pura. Mais tarde ele passou a entregar a carne no Mercado Municipal, que era localizado onde é hoje a Rodoviária, próximo a Delegacia de Polícia.
6- O Sr se recorda onde estudou?
R- Sim, estudei em uma única escola que era localizada defronte ao antigo cinema, na rua Cel. Manoel Ferreira Bello. Entrei na escola com 8 anos de idade. A minha professora se chamava Maria Muniz do Canto Pacheco casada com Pedro do Canto Pacheco, tio da minha mãe. Ela era de Curitiba e tudo o que sei, aprendi com ela. Era enérgica e muito competente. Dava aulas para 45 alunos, e começava as 8 horas da manhã, indo até o meio dia. Antes de começar na escola, eu morava com meus familiares em um sítio próximo de Clevelândia, então vim de lá para estudar aqui, isto bem na época da revolução que empossou Getúlio, em 1930. Lembro de um colega de escola chamado Moacir José Alves, filho de Raimundo Constantino Alves de quem a professora me mandava tomar a lição algumas vezes. Mais tarde foi feito uma espécie de exame de admissão para o quinto ano, e fui o único a ser aprovado, sendo que os demais colegas permaneceram no quarto ano. Lembro também de minhas colegas, Jacira Martins (esposa do Dr Antonio Anibelli), Sinésia Rocha, Lurdes Cardoso, irmã de Oscar Cardoso, e Loremi de Figueiredo, filha de Lisbão de Figueiredo que gostava de rinha de galo.
7- Quais as famílias que residiam em Clevelândia na década de 1930?
R- Me lembro principalmente aquelas que moravam no Bairro São Sebastião. Aliás, é o bairro que pode ser considerado o mais antigo de Clevelândia. Moravam ali o meu avô, Antonio Aires de Arruda, o meu pai Aureliano Rocha Loures, a Sra Brandina, o Sr Raimundo Constantino Alves, pai de Moacir meu colega que era goleiro do time onde eu jogava, o Fluminense. O Zenon Arruda, o meu melhor amigo desde os tempos de infância, jogava no Botafogo do qual foi fundador, eu fui fundador do Fluminense. Ainda tinha o Sr João Camargo pai de Fleury Camargo, do Anibal e do Atílio que moravam próximo a Escola Rural (hoje Colégio Agrícola Assis Brasil), e também gostavam de rinha de galo, o qual era um esporte muito popular na cidade.
8- Além do futebol e da rinha de galo qual era o outro esporte apreciado pela juventude da época?
R- Bolinha de gude, roda de arco de barril que a gente dobrava para correr pelas ruas, e corrida de “cavalo de pau”. Recordo-me que quando tinha 12 ano, fiz uma de um galho da árvore, de esporão de galo, uma “égua” que batizei de “Pimenta”. Atamos uma corrida com o meu primo Máximo. Meu pai foi o julgador. A raia improvisada era na estrada e saía de perto da nossa casa e ia até próximo ao atual almoxarifado da prefeitura. Tinha uns 200 metros. Após a largada corri a frente quase todo o percurso, e chegando próximo ao fim do laço a minha “égua” quebrou, eu caí, mas cheguei na frente, dando o julgador a minha vitória.
9- Ainda existem construções em Clevelândia que remontam a época da sua infância?
R- Infelizmente, as construções da época já não existem mais. Eram casas de pedra e sobrados centenários. Possivelmente a casa de pedra (que era edificada defronte ao atual banco do Itaú) e foi destruída da década de 1970 tenha sido a construção mais antiga da época, da qual tenho lembrança. Foi construída por Domingos Ferreira Pacheco no século XIX. Morei dois anos naquela casa, a qual era uma “fortaleza” sendo toda ela construída com pedras entrelaçadas. Meus dois filhos mais velhos nasceram lá. (Nereu e Nélio)
10- E na sua juventude o que se fazia em Clevelândia?
R- Clevelândia tinha uma meia dúzia de casas e não havia luz. Nas noites de luar, fazíamos serenatas. A minha turma de serenata era o Hermes que tocava violão, o Zenon Arruda que tocava cavaquinho, o Lolô Bahls, o Altamiro Alves, o Cid Bello e eu, que também tocava violão e cantava. As músicas cantadas eram as valsas, “Saudade do Matão” ,”O Destino Desfolhou”, Santa Terezinha e marchinhas de carnaval da época, entre outras. As moças abriam a janela e as famílias nos recolhiam servindo café pipoca e bolo. A minha mãe também gostava muito e sempre pedia para a “turma” fazer serenata, recolhendo a todos com alegria. Na casa do Sr. Chico Ribas, nós também éramos sempre bem recebidos. Importante ressaltar que a casa mais antiga que ainda resiste ao tempo é a casa desse senhor, aquela mesma onde tantas vezes fizemos serenatas. Permanece exatamente como era no meu tempo de juventude. (Casa de madeira situada na Rua Dr Francisco Beltrão esquina com Cel Pedro Pacheco). As filhas do Sr. Chico Ribas ainda moram nessa residência. Aliás, seria interessante que fosse feito o tombamento dessa casa e futuramente fosse transformada em um museu, para preservar o patrimônio histórico da cidade. (vide foto abaixo)
11- A criação do Parque Ambiental municipal Mozart Rocha Loures, - o maior do sudoeste do Paraná- que credencia o município para a percepção do ICMS ecológico, é um projeto grandioso que vai beneficiar a todos. O Sr como proprietário desta área o que tem a dizer ?
R- Sou clevelandense, (talvez um dos mais antigos) de identidade, alma e coração. Passei a minha vida inteira nesta cidade. Num período da minha vida trabalhei fora, mas o meu domicílio sempre foi aqui. Nasci no seio de uma família humilde, fui carroceiro e vendedor de frutas. Conheci essa cidade com pouco mais de 20 casas, tenho amor incondicional a esta terra. Ao longo da minha vida, tive participação na comunidade, colaborando com a sociedade, auxiliei como secretário do Clube Cassino Clevelandense, fui secretário da Hípica, auxiliei na Igreja com doação de prendas, procurei administrar com empenho e dedicação a fazenda que recebi de herança do meu sogro, com dificuldades consegui formar meus cinco filhos, a maior herança que um pai pode deixar. A parte de campo transformei em pastagens, a mata foi preservada. Sou um homem que sempre respeitou a lei dos homens e da natureza. Daquilo que recebemos graciosamente das mãos divinas, os rios, as florestes, a natureza enfim, somos apenas temporariamente depositários. A área de floresta da fazenda é muito grande, vamos preservar o que a lei exige como reserva legal. O excesso restante, poderia manejar para o cultivo de lavoura ou pastagens, o que economicamente seria mais atraente. Mas em conversa com os meus filhos, resolvemos de comum acordo, negociar parte da área a preço comercial e parcelado para instalação do parque municipal. Nada mais do que pagar uma dívida de gratidão para com minha terra, e proporcionar maior beneficio aos moradores que usufruirão das obras a serem ser repassadas pelo Estado e principalmente garantir a qualidade de vida dos que virão. Muito obrigado ! (O meu saudoso pai faleceu em julho de 2017)
19 de Abril de 2020
Mercado de secos e molhados (1930)
A foto abaixo é uma relíquia de 90 ( noventa) anos atrás, e mostra com precária visibilidade de um dos primeiros mercados de secos e molhados do município de Clevelândia, então situado na esquina da Rua São Sebastião com Rua Nelson Eloy Petry. Era de propriedade do casal José Aires de Arruda e Balbina Arruda. (meus bisavós paternos) A casa era rústica e servia de “ponto” para os cavaleiros que traziam mantimentos no “lombo de mula” das cidades de São Domingos e de União da Vitória-Pr. Segundo relato do meu pai (Mozart) na época com 08 anos, ele vendia laranjas para os comerciantes que por ali passavam.
Mercado de secos e molhados (1930)
João Aires de Arruda e Balbina Arruda
O trajeto de São Domingos até a chegada deste município era pela estrada velha, passando na frente da antiga propriedade da Família Passos, e depois pelo atual Bairro Almoxarifado até chegar a rua São Sebastião (uma das mais antigas desta cidade) As mercadorias eram comercializadas a outro mercado também, o Mercado Municipal situado na atual rodoviária do município. Segundo o prof. Darci Pacce, estudioso da região sudoeste, o sal vinha em navios a vapor, pelo Rio Iguaçu, de Curitiba a Porto Vitória. Posteriormente, após a construção da Estrada de Ferro São Paulo - Rio Grande do Sul, muitos mantimentos vinham de trem até União da Vitória e de lá para Palmas e Clevelândia de carroções. Para o restante da região, o transporte se dava por cavalos e tropas de burro. O professor diz que de Renascença e outras localidades do Sudoeste as pessoas levavam couro de caça, farinha de biju e toucinho em mantas para vender ou trocar nas casas de comércio de Clevelândia e Palmas. Em Clevelândia havia um mercado municipal que comprava várias mercadorias do pessoal. A primeira estrada, a Estrada Estratégica, foi planejada pelo Ministério da Guerra em 1888 e iniciava na Estação de Trens São João (atual Matos Costa) e ia até Barracão. O início da construção dessa estrada foi no Governo Washington Luiz, mas foi paralisada devido à Revolução de 1930. Passava por Palmas, Clevelândia e terminava na Vila de Pato Branco; até o ano de 1930 estava sendo construída pelo 5º Batalhão de Engenharia do Exército. Com a abertura da Estratégica, via da Vila Marrecas (Beltrão, a partir de 1952), Vila Nova (Pato Branco), Clevelândia, Palmas e União da Vitória, pelo menos os tropeiros e cavaleiros passaram a ter um trajeto de transporte de suas mercadorias e tropas de burros e porcos. A partir da abertura da estrada, foi intensificado o contato do pessoal da região com o comércio de União da Vitória. "Eles iam de carroças com os apetrechos e os porcos eram conduzidos a pé. (Fontes: Prof. Darcy Pacce, Jornal de Beltrão- e Relato de familiares da época)
07 de Fevereiro de 2020
A CHEGADA DE UM PIONEIRO EM CLEVELÂNDIA
O meu bisavô paterno João Cypriano da Rocha Loures e seu irmão, o Brigadeiro Francisco Ferreira da Rocha Loures chegaram no pequeno povoado de Clevelândia com seus familiares, no longínquo ano de 1.893, vindo da região de Palmeira, no município de Passo Fundo-RS, onde eram proprietários de uma fazenda chamada Lobo e Servo com mais de 5.000 alqueires, onde criavam gado. Segundo relato do meu pai, numa tarde o profeta João Maria, -um andarilho que não comia carne de animais e receitava chá de ervas e andava pelas fazendas- muito conhecido da minha bisavó Brasilicia que costumava levar queijo no local onde ele ficava acampado, ouviu dele uma previsão preocupante. “Eu sei que o seu marido não acredita em mim, mas diga para ele pegar a família e fugir desta fazenda o mais breve possível, porque vai haver uma grande revolta e todos correm risco de vida se aqui permanecerem.” Retornando para a casa, ela disse ao marido sobre a previsão, mas ele realmente não acreditou e respondeu a ela “Não seja boba em acreditar nesse homem, a região toda está calma, ninguém comenta absolutamente nada, imagina se vai haver alguma revolta.” Entretanto a previsão se tornou realidade, e dois dias depois do alerta, numa manhã de inverno, as planícies amanheceram tomadas de invasores, o que obrigou o meu bisavô e demais familiares a abandonarem a fazenda, fugindo em direção ao Paraná, sem nunca mais ter retornado. A fazenda foi uma doação de D. Pedro I, em agradecimento a meu bisavô e seu irmão, pela abertura da estrada de Guarapuava a Nonoai-RS, do qual foi fundador.
Aureliano e Nuta
João Cypriano trouxe entre os familiares o meu avô Aureliano da Rocha Loures, com apenas 14 anos, na garupa de uma mula conduzida por seu irmão Antonio da Rocha Loures que na época tinha 20 anos. Após permanecerem alguns dias no povoado, João Cypriano e Francisco seguiram para Guarapuava, e os irmãos Antonio e Aureliano foram morar em Campo-Erê-SC. Após algum tempo Aureliano retornou a Clevelândia e foi morar na Fazenda do Sr Firmino Martins, pai do Sr Manoel Lustosa Martins, (padrinho de Mozart- meu pai) tendo se casado com Benevenuta Pacheco Arruda em 24 de maio de 1919, nascida em Nonoai- RS. O casal passou a residir numa casa que foi presente de casamento do seu sogro Antonio Aires de Arruda, na rua São Sebastião. (Oficina do Paludo atualmente) Aureliano foi tropeiro, transportava gado para Palmeira-Pr e algumas vezes para o Rio Grande do Sul, passando com a tropa na antiga Balsa do Rio Uruguai. Mais tarde abriu um dos primeiros açougues de Clevelândia e abatia os animais no antigo matadouro que foi desativado. Segundo relato do meu pai, (Mozart) quando ele abatia os animais, tocava uma corneta para avisar que havia carne fresca, e um dos seus fregueses mais assíduos era o Sr Oscar Loureiro Cardoso. Naquela época não se vendia carne com osso, somente carne pura. Mais tarde ele passou a entregar a carne no Mercado Municipal que era localizado onde é hoje a Rodoviária, próximo a Delegacia. Em fevereiro de 1.925 integrou o Batalhão de Voluntários Republicanos Clevelandenses, no Combate do Rio São Francisco de Sales entre as forças legalistas e integrantes dos Destacamentos da Coluna Prestes. Aureliano faleceu nesta cidade, onde foi sepultado em 04/08/ 1972 onde foi sepultado.
18 de Dezembro de 2019
Do início do namoro aos natais que passamos juntos !
Era quase final de outono de dezembro, o jovem apaixonado de 24 anos encilhou seu cavalo, vestiu a bombacha branca, agasalhou-se com um pulôver, e um casaco transpassado, calçou as botas, e por fim colocou o lenço branco, montando em seu cavalo com destino a Fazenda Trindade onde morava seu futuro sogro, para encontrar Aracy o seu grande amor. E assim se sucedeu por muitas vezes, até o momento em que selaram a união e permaneceram casados por 67 anos. Numa época em que o romantismo se aflorava com um simples “olhos nos olhos” -mas que muitas vezes desabrochava numa avassaladora paixão e amor recíproco incontido- Assim aconteceu com Mozart e Aracy, meus saudosos pais, numa longínqua época, há mais de 73 anos atrás. O natal se aproxima. No dia 24 de dezembro é comemorado também, o dia do órfão,- todos aqueles que perderam seus pais, pessoas queridas que nos ampararam pela vida inteira independente de idade-. É preciso valorizar o espírito de solidariedade e compartilhar a alegria do natal. Entanto em algum momento da festiva data, por certo vou olhar para a cadeira vazia da sala e recordar as inúmeras noites de natal em que via meu pai sorrindo e ‘estourando” a rolha da primeira champanha da noite. Assim era o costume. Vou olhar lá na cozinha lembrar da minha mãe de avental “branquinho” fazendo a farofa para acompanhar o “chester” da noite de natal. Vou ver os presentes junto ao presépio para serem distribuídos pelo Papai Noel. Vou lembrar da criançada correndo irrequieta para receber os presentes. Por certo vou me emocionar no momento em que a família de mãos dadas rezar uma oração. Os natais nunca mais foram os mesmos, se tornaram mais tristes !
Mozart e Aracy
31 de Julho de 2019
Dou lhe uma...
Esta frase era a definição dos milhares de leilões e arremates feitos pelo saudoso Pelcido Arruda, -o primeiro e mais importante leiloeiro deste município. Filho de família tradicional, figura simpática, sempre de barba espessa e bigode, era um personagem requisitado em todas os eventos em que havia leilão, desde carreiras de cavalos, venda de gado, e outros animais, até bolos, cucas, e outros afins. Com participação constante na festa da padroeira Nossa Senhora da Luz, ou na capela São Sebastião, ou mesmo no interior do município. Nunca se recusou, ainda que graciosamente muitas vezes, a prestar o seu importante ofício em benefício da comunidade. Recordo com saudades do Sr Percido, como era conhecido, nos leilões e arremates da Hípica de Clevelândia, na qual o meu saudoso pai, (Mozart Rocha Loures) que era seu primo, serviu como secretário por longos anos. Percido não era somente leiloeiro, tinha experiência das lidas de campo, era exímio castrador e fazia cercas nas propriedades rurais. Um contador de histórias de todas as épocas, uma espécie de capataz da alegria e dono da “estância do tempo” como diz a letra de João Carlos Dornelles e João Paraná da música “Ventania” gravada originalmente pelo Grupo Cigarra. Era um homem alegre e cativante. Ainda muito jovem, recordo de suas visitas na casa de meus pais, pelo menos uma vez por semana. Ouvia madrugada a dentro, suas histórias de caçadas, de grandes carreiras, de boitatá (mito indígena simbolizado por uma cobra de fogo ou de luz com dois grandes olhos, ou por um touro que lança fogo pelas ventas) e do bicho papão (Segundo a tradição popular, o bicho-papão esconde-se no quarto das crianças mal-educadas, nos armários, nas gavetas e debaixo da cama para assustá-las no meio da noite) sempre regada a café e bolachas feitas pela minha inesquecível mãe.
Pelcido Arruda
Estive visitando a Hípica de Clevelândia, local de encontro das famílias na década de 1970, e o lugar onde outrora ocorria os leilões. Me veio à lembrança a presença do meu amigo Percido e da sua voz inconfundível. Resolvi sentar em uma cadeira e participar do leilão imaginário de um sentimento. Fechei os olhos e escutei o seu brado, após o derradeiro lance: Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três, arrematado a “saudade” por este cidadão, sentado na cadeira da frente, uma salva de palmas........Quem era ele ? Eu !!!!!
31 de Julho de 2019
MARIÓPOLIS (A cidade do Mário)
Mário José Fontana
O nome da cidade de Mariópolis vem da junção da palavra em latim marius (Mário) com a palavra do grego pólis (cidade) Trata-se de uma homenagem que o município prestou a Mário José Fontana, gaúcho nascido em Flores da Cunha, engenheiro, empresário, e colonizador da Fazenda São Francisco de Sales no município de Clevelândia, que adquiriu de José Rupp através de crédito que tinha com a União Federal. Iniciou suas atividades no setor vinícola de Caxias do Sul-RS. Desenvolveu também atividades em indústrias químicas iniciando a fabricação do ácido tartárico a ser utilizado para fazer vinho devido ao clima frio apropriado da região. Tornou-se um empresário de múltiplas atividades, destacando-se ainda na área de geologia, tornando-se membro da Associação de Geologia do Brasil. Em 1946 viajou aos Estados Unidos para encontrar-se com Antenor Patiño, herdeiro de reservas de estanho na Bolívia, para apresentar um projeto de exploração de estanho no Brasil,. Admirador dos Estados Unidos, pretendia vir buscar a família para morar lá, mas desistiu da ideia para fundar a CITLA (Clevelândia Industrial e Territorial Ltda) e colonizar uma área que a época totalizava 12 mil alqueires. Mario Fontana era um homem culto e visionário, fundou a Hidrelétrica do Salto do Rio Poço Preto, construiu serrarias e a primeira casa da futura cidade de Mariópolis com energia fornecida pela hidrelétrica, a primeira no Sudoeste do Paraná.
De Nova Iorque, se inspirou para um planejamento com a semelhança do nome das ruas para implantar em Mariópolis, ou seja, alamedas 1,2,3,4,5,6,7 e ruas 1,2,3,4,5,6,7, etc, centralizando-se a Avenida Brasil, o que permanece até os dias de hoje. A aptidão vinícola do município de Mariópolis, se deve a muitos do seus conterrâneos de Flores da Cunha, que atravessaram o Rio Uruguai para buscar um novo Eldorado no Sudoeste do Paraná. Mario Fontana faleceu em Mariópolis no dia 02/04/2013, com 88 anos, e nela foi sepultado.
(Fonte: Adaptação de um trecho do Livro : 200.000 alqueires por uma Caixa de Fósforos- A verdadeira história do colonizador do Sudoeste do Paraná- Elias Féder- 3ª Edição- Curitiba Post Comunicação-2016)
Foto: Nilton Loures e Elias Féder
Agradecimentos ao colega e amigo Dr.Vitor Eduardo Huffner Pardal- que nos proporcionou um encontro com o escritor Elias Féder para troca de livros-foto)
28 de Junho de 2019
JOÃO MENEGON
Para uma conversa amigável sobre as suas lembranças de mais de 60 anos atrás, João Menegon de descendência italiana, sorriso franco e conversa fluente, nos recebeu em sua casa para um “bate papo” agradável. Natural de Encantado, fixou residência em Santa Catarina. Conheceu Clevelândia em 1952 quando veio assistir uma corrida de cavalos juntamente com o Sr Stedile na antiga hípica, que naquela época, iniciava no “ Campo de Aviação” atual Bairro Aeroporto, e terminava nas proximidades do saudoso Colégio Estadual São Luis. Relata que a pista de corrida de cavalos, era inteira de “capim barba de bode” -uma espécie de planta invasora perene e com propriedades medicinais- naquele capim amadurecido e fibroso, se destacava apenas os dois trilhos para a passagem dos animais em disputa. Por coincidência ou não, no final do ano de 1.959 João deixou a cidade de Abelardo Luz-SC onde morava para vir de“mala e cuia” com a família, fixar residência em Clevelândia, onde permanece até hoje. Veio para trabalhar no setor de “moagem” do moinho de trigo da antiga empresa CIUNIL, pertencente a Rui Oliveira e Paulo Damo entre outros. O moinho era uma construção em madeira que ficava localizado no atual terreno baldio defronte a Câmara de Vereadores, na Rua Dr.Francisco Beltrão. Ainda se pode avistar ao fundo a antiga casa da família resistindo ao tempo.
João Menegon
Após trabalhar por muito tempo no moinho, fez um acerto e saiu da empresa para se dedicar a pecuária. Em sociedade com Dervile Cechetto (in memorian) compraram uma área de 70 alqueires de terras de Godorino Ochoa no “ Rincão Torcido para criação de gado. Após alguns anos de luta, não tiveram o sucesso desejado, e resolveram vender o imóvel. Como tinha experiência em marcenaria, foi trabalhar na fábrica de móveis dos Irmãos Simonato onde permaneceu por muito tempo. Após um pausa para revirar as lembranças no compartimento da memória, o Sr João, nos falou que entre a década de 1960 e 1970, a cidade tinha muito movimento, impulsionada pela ciclo da madeira e o grande número de serrarias instaladas no município. As ruas da cidade eram de terra, inclusive a Avenida Nossa Senhora da Luz, e havia muita poeira. O meio de transporte era feito a cavalo, carroça, charrete, ou carroção ( uma espécie de carroça com seis cavalos usado para transporte de porcos) Lembra que os saudosos João Carlos Grevetti, e os irmãos Manoel Lustosa Martins e Crescêncio Martins e outros fazendeiros que não recorda, tinham um Jeep Land Rover. Na sua opinião a cidade não se desenvolveu como deveria, por causa de interesses políticos opostos e que infelizmente existe até hoje. Dentre outras funções, João Menegon trabalhou também no Posto de Saúde de Clevelândia. Elogia o sistema de saúde do país, mas funciona só no “papel” porque na prática a realidade é outra. Afirma que a região sudoeste do Paraná, deve a Jaime Canet Júnior a grande maioria das rodovias asfaltadas e que contribuem efetivamente para o escoamento da produção agrícola, base da economia atual da região.
15 de Maio de 2019
CLEVELÂNDIA, NO INÍCIO DA DÉCADA DE 1960
Nilton Loures e Zelir Rossoni
A sua primeira residência foi próximo ao saudoso Clube Operário Guaíra, na rua José de Lima Pacheco, depois construiu a casa onde reside até os dias atuais na Av.Nossa Senhora da Luz. Zelir recorda que a cidade era muito diferente dos dias atuais, não havia pavimentação na grande maioria das ruas. Não havia telefone, nem televisão, a comunicação era via rádio amador, e correios e telégrafos. A praça era muito bonita, cercada de flores e árvores centenárias, que proporcionavam uma sombra refrescante nos dias de calor. As construções eram basicamente de madeira, incrustadas em velhos casarões de concreto que não resistiram ao tempo, nem foram preservadas. Por outro lado, o ciclo da madeira aflorava, e o movimento da cidade era grande em virtude ao número de Serrarias existentes no município. Dentre algumas, lembra da Pratense (Dirceu Peruzzo) Serraria Brotto, Camifra, Serraria Sandini (Itacir Sandini) Serraria Guérios, Cedromar, Serraria Buffon, Serraria Sheleder, Zelir teve participação ativa na sociedade e no comércio local. Foi sócio de Francisco Martins, dono da “Loja do Chiquinho” quando ainda tinha suas instalações no antigo casarão de madeira na esquina da Av. Nossa Senhora da Luz com a Rua Liberdade, próximo da atual loja. Alguns anos depois, vendeu o caminhão que possuía e arrendou o posto de gasolina de Paulino Machado, (atual Posto de Paulo Camilotti) tendo trabalhado por dez anos nesta atividade. Posteriormente no ano de 1983 fundou um dos primeiros supermercados da cidade, situado no prédio defronte a Radio Progresso onde permaneceu trabalhando com a família por muitos anos. Em razão do ritmo estressante que exigia o seu trabalho, por recomendação médica resolveu preservar a sua saúde e se afastou das atividades comerciais. Hoje permanece no aconchego do seu lar juntamente com sua esposa Neli, (minha querida professora do 4º ano primário) do Grupo Escolar Antonio Marcelino Pontes. Dos grandes amigos da época, Zelir recorda de Milton Zanin, Zulmir Rizzo, Orlando Zago, Narciso Doro, e o Sr Arnaldo -alemão -que até pouco tempo atrás ainda viajava, e era considerado um dos motoristas mais antigos do Brasil. Agradecemos ao Sr Zelir Rossoni, e sua esposa Neli. pela acolhida em sua residência e o privilégio de nos proporcionar esse pequeno relato sobre a sua vida nesta cidade.
De porte elegante, educação esmerada, simpatia cativante e memória privilegiada, Zelir Rossoni nos recebeu em sua casa para uma agradável conversa sobre a sua vida nesta cidade, quando aqui se estabeleceu há mais de sessenta anos, constituindo sua família e se dedicando basicamente na atividade comercial. Zelir nasceu no município de Marcelino Ramos-RS, e ainda jovem foi morar em Arroio Trinta-SC, -cidade conhecida como a capital estadual da cultura italiana, onde foi trabalhar numa loja de comércio. Veio para Clevelândia no final do ano de 1956, a convite da família Zardo que tinha loja de comércio naquela mesma cidade, próximo ao local onde ele trabalhava. Foi motorista de caminhão por 25 anos e recorda que naquele tempo uma viagem para São Paulo durava aproximadamente 15 dias, pois as estradas eram precárias com muito trechos de “chão batido” o que dificultava o transporte em dias de chuva. Entretanto, não havia tanto risco de assaltos como nos dias atuais.